quarta-feira, novembro 24, 2010

Próximos da morte

Hoje eu ouvi duas vezes que amar é bom.
Ouvi o anúncio de uma morte...morreu, e agora?
Esperamos que um dia nossas vidas possam se encontrar.
Você se viu tendo que viver consigo apenas e com o mundo?
As tuas veias erraram o caminho, e teus olhos chegaram atrasados para ver a irmã, aquela que pousando ao teu lado, pensou em sua mãe, avisou a família.
Amar é bom.
Ouviram dizer da diabetes e das drogas, e elas os confundiram, pois a tua morte veio, não por causa da porra da diabetes ou da porra da droga. Veio a parada cardíaca. Você não teve a oportunidade pra pedir pra parar.
Agora todos se perguntam pela morte e comentam: Ela não foi embora cedo demais? Não acham que de uns tempos pra cá ela anda um pouco distante?
Todos os subhospitaleiros só pensam, só olham, só são cegados pela luz branca, aquela que a morte sempre vê, aquela que os mortos nunca vão ver.
Todos estão mortos e se encontram, ninguém desconfia, mas a morte é que não devia estar realmente ali.
- Você não é bem vinda aqui Senhora. O alvo entristece.
A Morte repete: Amar é bom.
O alvo não imagina que mal conheceu e expulsou seu novo rumo.
Por mais que eu saiba tudo isso, eu escaparia só para ouvir mais uma história, um ronco, uma vozinha cantarolando.
Não anunciaram minha hora de partida, a criança é que não merece, elas não entenderiam, e não é fácil mesmo entender o abismo, o vazio.
Passamos a vida inteira desejando não ouvir asneiras, vozes que mais parecem cavalos relinchando.
O vazio é tão repugnante quanto, é insuportável, é a queda em solo fixo, sem tombos.
Aqui não temos noções de medidas, não temos definições.
Eu não sei a hora que devo parar e não sei se já iniciei o que já devia ter dito, não sei se gostaria de ter dito o que disse, não sei nem se disse...
Amar é bom.
Todas as mortes aprendem que amar é bom.
Nenhuma vida aprende coisa alguma.
Não há dúvidas na morte.
A vida é uma dúvida e vai ser.
Não tem tempo, nem possibilidade. Se comprime apenas em uma mente que tenta a todo momento ter mais mentes pra fazer contato.
Eu odeio essa hora em que tudo para, os ouvidos batem feito coração e a gente ouve alguma nota indefinível, parecem gritos abafados, ou algum agudo que pra gente é grave.
A morte também é um som indefinível.

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