segunda-feira, novembro 22, 2010

Sim, sim oh sim, era disso, disso mesmo que eu estava precisando: De uma tarde com jeito quente, uma tarde que mesmo quente inunda nossos pensamentos ignorantes e ignorados, na qual sento numa cadeira sem encosto, de frente pra essas teclas barulhentas e queridas.
Velo uma barata, continuo velando por três dias e mal consigo agarrar tuas patinhas levantadas e duras... Devem estar geladas, fazem eu me sentir apostólica, tanto que daqui a pouco vai se conservar, se tornará minha barata de laboratório... Ó, me falta coragem até pra agarrar tuas patinhas...
Devo R$1,50 pra moça do bar, parece que ela não gosta de mim... Vou todo dia desarrumada, talvez seja isso... Hoje por exemplo cheguei encharcada e ainda pedi pra pagar depois... Tirando esses desentendimentos visuais, temos uma boa relação, ela já sabe qual é meu cigarro favorito e que não sou maior de idade, é assim que nos ajudamos, uma admirável troca; ela me ajuda a sobreviver enquanto só.

Voltei sem enxergar, mas conheço quem passa por mim. Uma barbudo da esquina por exemplo, já velho, com aquelas ferramentas e carros e motos, com os braços cruzados, o olhar que deixo me seguir, mas que deixo pra trás, pra poder voltar aos meus entretenimentos e compainhas mortas...
Assisto a um documentário, beat, faço uma pausa, penso nas táticas pra tentar orgulhar meus pais, minha mãe, minha professora, meus deuses... Claro que no fundo isso de nada me importa, pois as únicas coisas que consigo pensar, é nesse papel que já está acabando, no centro velho com seus prédios altos, nos buracos que impossibilitam os idosos a andarem tranquilos nas calçadas e olharem pros prédios altos... Só conseguem olhar para as poças, molhando seus sapatos de pano, pensando que são eles que devem ser aposentados, por isso, sei que na próxima vez que os idosos passarem por mim, são os sapatos de couro que verei... Os donos do sapato sorriem, satisfeitos, e os sapatos sim, ah sim, eles orgulharam com tuas táticas impermeáveis mesmo num dia de sol... Mas quando repousam em baixo daquela cama, no chão limpo, sem nenhuma poeira, pensam nas estrelas que nunca poderão ver, pois os olhos dos donos estão pregados a tela e ao teto... Eles não conseguem lembrar o formato que as estrelas tem...

Não sou feita de couro, então o que sou? O que faço, afinal, dentro dessa caixa?
Porque todos nessa época do ano, pensam que vão estar avançando, se nada passa de um número?

2011.

4 comentários:

  1. vc deve ser a chuva que bate de frente com o vento e sempre molha algum desprevenido ou refresca divertidamente(refrasca?) aqueles que sentem calor angustiante.

    * Os tempoS são só UM a mais dentre tantos que morrem de velhice quando o novo chega: empermeie seu heartdisk para que os anos fiquem na memória: 2010 foi um bom ano; o melhor de todos pq consegui materializar alguém.

    enfim...

    ResponderExcluir
  2. Não esqueça de me tirar.
    Muito mais que isso.

    P.

    ResponderExcluir
  3. Sim, algo de fantástico aconteceu: eu, como você também, materializamos algo que não pertence ao mundo material... Quanto mais perto, mais surreal...

    ResponderExcluir