Sonho

3hrs a.m subimos a Henrique Shuring, Giuliana ia dormir aqui em casa.
Dessa vez lembramos de usar uma calça pouco valorizável, mas mesmo assim, era 3hrs a.m.
Ouvimos um barulho de uma moto, estremecemos, foi fatal, vinha na nossa direção, faróis altos, mas o que mais nos cegava, eram os olhos imensos que ela tinha.
Corremos virando as duas ruas que restavam para chegar no meu portão, conseguimos entrar, mas ela tinha uma arma e nos obrigou a abrir.
Com a moto descansando do lado de fora, com nossas cabeças viradas para o chão, ela vinha com os braços retos, apertando aquele brinquedo.
Dizia que não podíamos escapar, éramos sedentárias, éramos sujas. E ela adorava George Orwell.
Nos apaixonamos então.
Tudo bem, faça o que quiser com a gente.
Dialogamos um diálogo travado, aqueles de telefone, na minha garagem.
Ouviram aquele tumulto, muitas pessoas vieram nos porteger, e descobriram que a motoqueira mal sabia usar a arma que tanto a encorajava.
Passada algumas horas, pegamos um ônibus que nos levaria à um quartel, onde a motoqueira seria presa, e nós, interrogadas.
No ônibus foi estranho, a motoqueira estava triste e lançava aquele olhar de faról cheio de compaixão amedrontadora.
Era um quartel aberto, imenso.
Scooby, meu cachorro, vinha junto.
Esperamos um pouco, fora da sala, enquanto alguns homens entravam, homens uniformizados.
Só que num momento de desespero, vimos a motoqueira correndo em direção a porta que quase fechava, tiros, facadas, ela havia finalizado os uniformizados.
Entramos, porque não nos restava mais nada. Eu, Giuliana e Scooby.
Depois dessa breve introdução de heroísmo covarde, a Motoqueira se tornou o nosso Guru. E aquela sala, que agora tinha a porta definitivamente fechada, se tornou o lugar mais entorpecente da cidade.
A última lembrança que tenho, é da Giuliana fazendo carinho no Scooby, caindo no chão, sorrindo, com todas aquelas luzes naturais, luzes brancas, luzes completas.
A motoqueira nos proporcionava tudo.
Caí no chão.