segunda-feira, abril 18, 2011

Pedro Pedreiro - Chico Buarque (Análise)

"Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem

Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês

E a mulher de Pedro está esperando um filho prá esperar também

Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Que a esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem..."


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Canção número seis do lado A, presente no disco de estréia de Chico Buarque de Holanda, em 1966, composta pelo mesmo.
Com vinte e dois anos, Francisco, filho do importante historiador Sérgio Buarque de Hollanda, sofria intensos bloqueios e censuras. Nisso, lançou o primeiro disco.

Pedro Pedreiro, uma das primeiras personalidades arquetipadas do brasileiro, não especificamente do pedreiro ou de uma pessoa, mas de um todo.
Diversas características são expostas nessa narração musicalizada sobre o personagem.
O Brasil e quem nele residia, estava sob a ditadura havia dois anos. Gerações abaladas pela "inovação" política, outras que embarcaram e não conheceram o país sem ditadura implantada, etc.
"Pedro Pedreiro" contém um neologismo durante o decorrer da música: "penseiro", que intensifica a passividade inicial e duradoura de Pedro, que além de pedreiro, ocupa o "ofício" de penseiro (vide sufixo "eiro").
Mas, principalmente, Pedro espera, e é rodeado por espera, por conta da vida que leva; miserável, migrante, "chefe" de família, arrependido...
Pedro é a personificação da classe operária remunerada pela força braçal, que apesar da baixa remuneração, espera, e aquele que espera, possui esperança. E esse desnível das classes sociais, era composta, sobretudo, por migrantes nordestinos, que erguiam uma São Paulo recém metrópole cheia de ganâncias.
Mesmo não pertecendo a essa classe, Chico era e é engajado, e assim sofria desesperanças, por isso, desiludiu "quieto" junto ao penseiro e anti herói, Pedro Pedreiro.
No miolo da canção, nos deparamos com o seguinte verso: "Pedro pedreiro espera o carnaval". A interpretação, neste caso, é uma só: O carnaval é estimado como única felicidade do povo, por não ser seletivo, resultar num feriado que antecede um período católico, no qual o povo quer cumprir, injetar alegrias aos operários mais explorados (é apenas uma evidência, não uma generalização), etc.
A família do tratado, aparece na frase: "E a mulher de Pedro, esperando um filho pra esperar também". Expondo que o progenitor não poderá oferecer subsídio ao filho, devido as condições, tratando indiretamente, de uma predestinação.
Pensemos, rapidamente, nas concepções culturais, e levantemos a seguinte questão: Pedro (brasileiro) não é dotado financeiramente. A reprodução, neste caso, não seria inviável? O brasileiro, ao pensar em reprodução, considera, inconscientemente, os aspectos culturais.
A música possui uma progressão melódica.
Terminamos constando que Pedro se arrepende e se contradiz, sofre, sabe que sofre, e não quer mais sofrer por conta de sua esperança distorcida que nunca será, racionalmente apoiada, por conta, principalmente, do Regime Militar da época.
Os últimos versos nos poe submersos na imediata conclusão: O destino é incerto, pode tratar de sua terra natal, ou da residência na grande cidade.
Mas há a certeza de que Pedro está na plataforma, desejando agoniado, apenas voltar para a casa, depois de um dia, igual a todos os outros, em que tudo o engoliu, os sonhos, a ética pessoal e social, até a própria esperança.

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